terça-feira, 4 de maio de 2010

OBSERVAR/FAZER WE CAGE



Acompanhar essa pesquisa é um desafio para o senso de harmonia e linearidade que nos acompanha desde a Grécia Antiga. Este trabalho é desafiador para toda a equipe, pois ao adotar-se a “aleatoriedade” como parâmetro de construção, assumiu-se o risco constante e a descoberta de novas construções lógicas, muitas vezes recebidas com bastante estranhamento pelo nosso raciocínio.
O observador por sua vez é desafiado também, ao entrar em contato com o risco proposto pelo trabalho nos muitos momentos de imprevisibilidade, da imagem, do som, do corpo, entrando num processo de atualização contínua do raciocínio, considerando que esse processo é um fenômeno corporal.
Mesmo sendo uma pesquisa que tem como ponto de partida a obra Variations V de Merce Cunningham e John Cage, esse trabalho também nos coloca em situação de assimilação da trajetória da humanidade e sua relação com a técnica e complexidade tecnológica, ao nos mostrar o corpo reorganizando a experiência do movimento e da possibilidade de criação da própria imagem a partir da extensão da tecnologia. We Cage nos coloca ante nossa mais pura realidade de uso da tecnologia como extensão do corpo, processo que nos é familiar a milhares de anos.Estagiar nesse processo me abriu muito a percepção da historicidade do corpo e sua relação com a tecnologia (que se complexificou através dos anos), além de ampliar a minha visão como artista para enorme porta que o uso da tecnologia abre para a expressividade e fazer artístico.

A experiência do estágio:
Vale aqui apontar a importância em acompanhar o dia-a-dia de uma companhia de dança profissional e independente, ver como se torna possível a construção de um trabalho como We Cage em apenas um mês e meio de pesquisa. Esse tipo de estágio possibilita a tomada de consciência dos processos de produção de dança disponíveis no momento, e da necessidade de se informar mais sobre as políticas culturais que os viabilizam, para que futuramente possamos discuti-las e até mesmo ter mais força para modificá-las e contribuir para tornar possível que mais trabalhos em dança se realizem com condições e acomodações pertinentes às suas reais necessidades.

Rose Mara Silva, estagiária da FAP – Faculdade de Artes do Paraná / Dança

Nenhum comentário:

Postar um comentário